terça-feira, 17 de agosto de 2010

Passarazzi no Il Ridoto de Agosto

Encontro com um bando misto.


Pula-pula Balasileurus culicivorus é o centro do bando.
  Não, eu não estou falando de políticos tampouco de piratas ou gangsteres, pois a palavra bando é mais empregada para definir uma quadrilha de ladrões do que para um grupo de músicos, escoteiros ou conservacionistas, talvez um bando de artistas ainda vá lá...
No nosso caso trata-se de um bando de aves, que apesar da imediata relação com a leveza e a liberdade desses seres alados trata-se de um verdadeiro saque, uma associação para forrageio intensivo dos recursos da mata com a segurança do bando.


A massa da mandioca torrando num forno de latão.
foto Rooney Rech
Encontrei pela primeira vez com um bando desses no começo do nosso inverno austral (ainda está muito frio enquanto escrevo) fomos à casa do avô do nosso amigo Luiz na localidade de Vila Hoffman (município de São Pedro de Alcântara, SC Brasil) uma comunidade próxima a açoriana ilha de Santa Catarina, mas de colonização germânica. Lá, chegando um café colonial na casa da Vó, e depois o Vô de 79 anos nos recebeu fazendo farinha e nos serviu da cachaça que fabrica ali também num engenho do início do séc. XX, feito a mão de madeira com uma engenharia do séc. XIX. É bonito de ver aquelas engrenagens funcionando à água.


O polvilho subindo. foto Rooney Rech
  
O pai e o tio dele, um deles nascido na Alemanha, construíram um açude e canalizaram na pá e na picareta, parte da água do rio para uma roda d’água que move o engenho de farinha e cachaça e  também uma outra que traciona uma máquina artesanal de transformar troncos em tábuas postes e palanques de cerca .
Saí-azul Dacnis cayana, membro do bando.
A água move os dentes de madeira que moem a cana-de-açúcar para fazer cachaça, ralam a mandioca para fazer farinha e movem a pá de madeira que mexe a mandioca ralada sobre o cobre quente e a transforma em farinha. Esta “paellera” de cobre imensa sobre um forno torra a massa da mandioca e a torrefação faz subir um pó, que se chama polvilho (acho que em algumas línguas), mas que não é aproveitado apenas tudo se cobre de branco como se pode ver nas fotos do Rooney que arriscou entupir sua lente de pó focando as teias cheias de farinha. Eu me afastei um pouco do engenho aonde o Ben filmava a roda d’água e sentei na beira do mato por onde passava o canalzinho que ia para a roda. Esperava rever umas aves coloridas que tinha visto de relance antes, ali próximas da água.



Polvinho sobre a telha...

Apesar da luz não ser muito boa (estava nublado) preparei a câmera com a lente 400 mm, fiz uma foto do telhado branco de farinha mais abaixo. Sentei numa pedrinha atrás de uns arbustos para esperar as aves, mal me acomodei percebi um bando chegando por entre as árvores vindo na minha direção eram uns cinco ou seis pássaros coloridos no núcleo do bando com pios e outras aves acompanhando perifericamente o deslocamento do grupo pelas galerias da mata. Estes cinco ou seis pássaros, eu não os contei, pois fiquei tão perplexo que não sabia para qual olhar, vieram todos para o arbusto imediatamente à minha frente e ficaram a 60 cm da ponta da minha lente (que só começa a focar a partir de 3,50metros). Por puro reflexo ainda tentei focar, mas baixei a câmera e fiquei apenas olhando as Saíra - militar, Saíra-sete-cores, Saí-azul e sua fêmea verdinha e eu acho que vi uma Saíra-lagarta também....Todas me olhando fixamente parecendo curiosas com a minha estupefação e alegria frente a elas, o tempo parou por uns segundos e de repente todas voaram como se numa coreografia criada pelo vento por entre as árvores da floresta.

O bando misto: Saíra-sete-cores Tangara seledon e fêmea do Saí.

Saíra-militar Tangara cyanocephala.

Fiquei atônito por uns instantes e saí correndo também para o lado do açude, atrás delas, tentando fotografá-las. Encontrei um pequeno e irrequieto passarinho que ficou bem no foco e foi o melhor registro que fiz do bando misto naquele dia, era o Pula-pula que depois, descobri em pesquisas “googleanas”, funciona como uma espécie de catalisador para o fenômeno do bando misto.


Pula-pula Balacilerus culicivorus

Acredita-se que por ser irrequieto e sinalizador com vocalizações constantes e claras sirva de guia dando coesão ao bando e alerte sobre predadores à espreita. O bando também dá maior possibilidade de defesa, pois um grupo de pequenos pássaros pode enfrentar aves maiores com mais chances inclusive de fuga.


Saíra-sete-cores Tangara seledon
Existem diversos tipos de formações desses bandos mistos, variando conforme a época do ano, ou a presença de alguma espécie migratória, ou o tipo de mata ou alteração no meio ambiente, ou estação reprodutiva, mudam os pássaros associados conforme essas variáveis.


Não há consenso sobre o que move os pássaros de espécies diferentes a cooperar formando tais bandos.


Também não sei, mas sei que é bonito de ver é.



Neno Brazil.
Ilha de Santa Catarina




2 comentários:

  1. Neno,

    ter bom gosto é foda. o teu é um dos blogs mais bonitos que já vi, e olha que ando poraí, na blogosfera. meus parachoques.

    abração do vinícius

    p.s. / já tô seguindo e já tá nos meus favoritos.

    ab./v.

    ResponderExcluir
  2. Oi neno,muito legal seu blog. depois que ensinou pra mim,ensinei pre mais duas amigas.
    ja tenho dois blogs.
    carol.

    ResponderExcluir