Simpáticas vizinhas: símbolos da sabedoria, corujas são ferozes na hora de proteger a prole
Publicado em 19/05-11:43 por: Paulo Jorge Pereira Cassapo Dias Marques.
Remanescentes. Corujas perto do local onde vários ninhos foram fechados, no Norte da Ilha - foto Fernando Mendes/ND
São aves de rapina, mas não há quem não se encante com as corujas a ponto de, se pudesse, levar uma delas para casa. De fato, é difícil não ser atraído pela bela plumagem, pelos olhos grandes, inquiridores, pela sua capacidade de voar em silêncio, pelo senso de territorialidade, pelo hábito de proteger os filhotes com um rigor de fazer inveja a outras espécies. E, também, pela facilidade de girar a cabeça até 270º, atributo que aumenta a eficácia na vigília permanente com que defendem a prole e a si mesmas.
Essas aves ganharam o noticiário local há cerca de um mês, quando vários ninhos de corujas-buraqueiras, as mais conhecidas na Ilha de Santa Catarina, foram fechados num grande estacionamento de Jurerê Internacional. Os protestos ainda estão lá, em cartazes que chamam de “assassinos” os mentores da ideia, mas as corujas remanescentes também continuam na área, geralmente em grupos de três ou quadro, dominando a paisagem.
Basta dar uma volta pela Ilha, pródiga em pastos e baixios, para encontrar exemplares observando de cima, em postes, cercas e moirões, ou andando pelo chão, com sua característica autoridade e ar de poucos amigos. Ao lado da Biblioteca Universitária da UFSC, no bairro Trindade, existe um ninho mais velho do que muitos servidores da instituição. “Há 32 anos, quando entrei aqui, a gente já ia para a janela espiar as corujas”, conta a diretora da casa, Narcisa de Fátima Amboni. “E nada mais justo do que elas estarem aqui, pois historicamente são símbolos de nobreza e sabedoria”.
Na Cachoeira do Bom Jesus e no Rio Vermelho, com muitas áreas ainda desocupadas, também é fácil encontrar essa espécie cujo nome científico é Athene cunicularia. No Brasil, há 22 espécies de corujas, Santa Catarina conta com 17 e a Ilha, com sete.
Homem é o maior predador
A bióloga Vanessa Tavares Kanaan, que tem doutorado nos Estados Unidos e faz pós-doutorado em Ecologia na UFSC, não lida apenas com corujas, mas sabe que elas são vítimas frequentes das ações humanas, que provocam a perda de habitat pela expansão agrícola e imobiliária, destruição de ninhos, atropelamentos, maus tratos e intoxicação por agrotóxicos. Por estarem no topo da cadeia alimentar, elas têm poucos predadores naturais, sendo o homem o seu maior inimigo. “A coruja-buraqueira também costuma forrar o ninho com estrume, o que atrai insetos que servem de alimento e faz com que os machos, responsáveis pela busca da comida quando há filhotes, se mantenham mais próximos e reforcem a segurança da prole”, diz Vanessa.
A bióloga Vanessa Tavares Kanaan, que tem doutorado nos Estados Unidos e faz pós-doutorado em Ecologia na UFSC, não lida apenas com corujas, mas sabe que elas são vítimas frequentes das ações humanas, que provocam a perda de habitat pela expansão agrícola e imobiliária, destruição de ninhos, atropelamentos, maus tratos e intoxicação por agrotóxicos. Por estarem no topo da cadeia alimentar, elas têm poucos predadores naturais, sendo o homem o seu maior inimigo. “A coruja-buraqueira também costuma forrar o ninho com estrume, o que atrai insetos que servem de alimento e faz com que os machos, responsáveis pela busca da comida quando há filhotes, se mantenham mais próximos e reforcem a segurança da prole”, diz Vanessa.
De modo geral, as corujas possuem uma audição muito apurada e a facilidade de girar o pescoço aumenta o seu campo visual, facilitando a caça – roedores, répteis, insetos, anfíbios e pequenos mamíferos – e a identificação de predadores. Monogâmicas, se reproduzem entre março e abril, normalmente. A bióloga aposentada Lenir Alda do Rosário destaca que as corujas são exímias caçadoras noturnas e têm ouvidos adaptados para selecionar no interior da mata o que lhes interessa comer.
Amor aos pássaros, sem alarde
Ir atrás de “corujólogos” é uma tarefa ingrata, porque não existem tantos especialistas numa área tão específica. O que há são ornitólogos, biólogos atraídos pelos hábitos das aves e os diletantes, amantes dos pássaros e de sua capacidade de despregar-se do chão – coisa que os homens só conseguem empuxados pela força das turbinas. Mas é nessa lida quase solitária e sem mídia que podem ser encontradas grandes figuras que analisam a rotina, criam bancos de dados e jogam na internet imagens e informações sobre aves dos mais diversos tipos e procedências. E há quem vá além disso, devolvendo ao seu habitat exemplares de espécies cada vez mais raras na natureza.
Ir atrás de “corujólogos” é uma tarefa ingrata, porque não existem tantos especialistas numa área tão específica. O que há são ornitólogos, biólogos atraídos pelos hábitos das aves e os diletantes, amantes dos pássaros e de sua capacidade de despregar-se do chão – coisa que os homens só conseguem empuxados pela força das turbinas. Mas é nessa lida quase solitária e sem mídia que podem ser encontradas grandes figuras que analisam a rotina, criam bancos de dados e jogam na internet imagens e informações sobre aves dos mais diversos tipos e procedências. E há quem vá além disso, devolvendo ao seu habitat exemplares de espécies cada vez mais raras na natureza.
Um exemplo é a bióloga e psicóloga Vanessa Kanaan, que coordena o grupo Espaço Silvestre, vinculado ao Instituto Carijós. O feito dessa equipe é a reintrodução do papagaio-de-peito-roxo (amazona vinacea) no Parque Nacional das Araucárias, localizado nos municípios de Ponte Serrada e Passos Maia, no Oeste catarinense.
“Durante o período pré-soltura os animais são treinados para procurar e manipular itens que compõem sua dieta natural, voar satisfatoriamente e evitar humanos e outros predadores”, diz a bióloga Joice Reche Cardoso, cujo mestrado tem como foco a preparação comportamental das aves. Dados biométricos e peso corporal são coletados. Após um tempo de ambientação no local da soltura, os que se adaptarem são soltos, passando a ser acompanhados por meio de rádio-colares. E uma campanha de educação ambiental com a comunidade do entorno do parque completa o programa, que tem apoio da UFSC, Fundação O Boticário e outras empresas e voluntários, como Cristiane Martin (ela tem participação ativa como voluntária no Espaço Silvestre). Resultados parciais e notícias sobre o projeto estão no www.facebook.com/espacosilvestre. (PCS)
Publicitário e seu blog bem animal
Não é menor o carinho que o publicitário Neno Brazil dedica às aves, seja as daqui, seja as do Uruguai ou da Patagônia, para onde costuma viajar. “Sou um amador, mas tenho o prazer de bisbilhotar a vida dos pássaros”, afirma. Há 16 anos, quando visitou a Costa Rica e comprou um guia de aves, começou uma aventura que dura até hoje – fotografar todos os pássaros que pode, postando fartas imagens e informações no blog www.passarazzi.blogspot.com. Ele chegou a lançar um guia de mão (já esgotado) com aves do litoral catarinense e manda fotos e textos para uma publicação cultural chamada Il Ridoto, editada em Veneza, na Itália.
Não é menor o carinho que o publicitário Neno Brazil dedica às aves, seja as daqui, seja as do Uruguai ou da Patagônia, para onde costuma viajar. “Sou um amador, mas tenho o prazer de bisbilhotar a vida dos pássaros”, afirma. Há 16 anos, quando visitou a Costa Rica e comprou um guia de aves, começou uma aventura que dura até hoje – fotografar todos os pássaros que pode, postando fartas imagens e informações no blog www.passarazzi.blogspot.com. Ele chegou a lançar um guia de mão (já esgotado) com aves do litoral catarinense e manda fotos e textos para uma publicação cultural chamada Il Ridoto, editada em Veneza, na Itália.
Neno também fez um trabalho sobre as lontras da Ilha para o Instituto Eco-Brasil e trabalha com direção de arte no cinema. Sua última empreitada foi no curta metragem “Astheros”, dirigido por Ronaldo dos Anjos em 2010. Em relação às corujas, que têm espaço cativo em seu blog, ele se diz mais animado, porque, assim como outros pássaros, elas estão menos assustadas que no passado. “Antigamente os meninos caçavam mais, porque não tinham computador”, constata. “Hoje, eles são menos passarinheiros”.
Apego. Bióloga aposentada Lenir Alda do Rosário vem há anos observando pássaros que se reproduzem na baía Sul
foto Débora Klempous/ND
Banco de dados em construção
Trabalho árduo também é o realizado ornitóloga e bióloga aposentada Lenir Alda do Rosário, que está montando um banco de dados reunindo os registros do seu livro “Aves de Santa Catarina”, lançado em 1996, e de outros pesquisadores e observadores da nova geração. “Creio que no tempo da informática esta é a forma mais dinâmica para organização e atualização de informações sobre o tema”, diz ela. Lenir quer ajudar estudiosos, consultores do setor ambiental e educadores, permitindo que insiram registros inéditos no site www.avesdesantacatarina.com.br, que espera colocar em breve no ar. A obra publicada da bióloga mostra, por exemplo, como a construção do aterro da baía Sul, no Saco dos Limões, alterou os hábitos e a variedade de pássaros que se acasalam na região.
Trabalho árduo também é o realizado ornitóloga e bióloga aposentada Lenir Alda do Rosário, que está montando um banco de dados reunindo os registros do seu livro “Aves de Santa Catarina”, lançado em 1996, e de outros pesquisadores e observadores da nova geração. “Creio que no tempo da informática esta é a forma mais dinâmica para organização e atualização de informações sobre o tema”, diz ela. Lenir quer ajudar estudiosos, consultores do setor ambiental e educadores, permitindo que insiram registros inéditos no site www.avesdesantacatarina.com.br, que espera colocar em breve no ar. A obra publicada da bióloga mostra, por exemplo, como a construção do aterro da baía Sul, no Saco dos Limões, alterou os hábitos e a variedade de pássaros que se acasalam na região.
Nas corujas, ela destaca a elegância e as plumas coloridas em forma de raios, que contrastam com sua fama de agourentas. E alerta para a ameaça representada pela ocupação dos morros, abertura de estradas, novos condomínios, queimadas e a ampliação das atividades nas pequenas propriedades agrícolas.
Se Lenir do Rosário luta para reunir todos os registros que pode, 13 papagaios-de-peito-roxo, espécie ameaçada de extinção, foram monitorados durante sete meses após a soltura pelo pessoal do Espaço Silvestre no Oeste do Estado e demonstram estar adaptados à vida livre. Outros 30 indivíduos serão soltos no mesmo parque no segundo semestre de 2012.
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