quarta-feira, 9 de março de 2011

Pinguins magellanicos


Em duas ocasiões na Península Valdés tive a oportunidade de clicar umas fotos bem próximas dos curiosos e iriquietos Pinguins de Magalhães ou Spheniscos magellanicus, na primeira vez em 2005 fiz várias fotos analógicas com uma NikonF2 1980 munida de uma tele 300 - mas já tinha uma digital na trip (uma kodak 5.2mpxls) e acabamos aproveitando muitas da kodak nesta viagem. O ponto alto foi uma chuva raríssima por aquelas bandas.

Praia da Estância La Ernestina Punta Norte
Em 2006 na segunda vez além de eu já estar com uma digital EOS20D chegamos aos pinguins na Caleta Valdés com uma luz de fim de tarde show de bola...
 
Nas duas vezes o encontro se deu em clima e locais diferentes da península o que proporcionou observar comportamentos diversos dos pinguins, da primeira vez eu e a Chi nos hospedamos na Punta Norte na estância La Ernestina assim podemos ter uma imersão maior na fauna local que habita em grandes colônias dentro da estância.

Entrada da ciudad de los pinguinos...





O guia Juan é da família de proprietários que criam ovelhas na península faz um século, ele nos leva de LandRover 110 pela “fazenda” e nos guia e nos orienta para visitarmos as colônias de centenas de leões-marinhos e de pinguins sem estressa-los.  A abordagem é conduzida com sabedoria pelo Juan que nos deixa “na cara do gol” para observação na reserva que é o seu quintal, onde ele espera a temporada para fotografar as orcas.


O tempo fechando

E o arcobaleno depois da rara chuva em Valdés.





A praia dos Pinguins é um talude (plano inclinado) natural de seixos rolados de todos os tamanhos e mais junto ao mar são minúsculos e milhões.

Na época deduzi que seriam “rolling stones” que vinham se polindo em grupo por milhares de anos desde os Andes vindo com o degelo até ali para discordância do Fred um porteño que também estava hospedado na estância, mas hoje depois de ler “Viaje a la Patagónia Austral” do mui argentino Perito Moreno, aprendi que a ciência deve ter deduzido isso desde o sec. XIX.


Os seixos refletem o arco-íris do céu austral.

Chegamos de cima do talude em direção ao mar e os pinguins foram abrindo uma roda em torno do nosso grupo. Era como alguns aliens chegando numa copacabana cheia e todos irem se afastando para uma distância segura.

Éramos três casais mais o Juan como guia e ficamos sentados na praia um tempo e assim logo os pinguins vieram mais para perto para matar a sua aparente curiosidade sobre nós.

Então caiu um vento forte com uma chuva fina que fez render fotos interessantes de pinguins e arco-íris. Nosso guia criado na região chamou de evento de raro essa chuvinha.

Na segunda vez que encontrei os pinguins foi na Volta Patagônica em 2006 e eu e o Gama saímos tarde do Camping Municipal de Puerto Pirâmides e até chegarmos ao meio da península indo pela Punta Delgada (sul) já caía a tarde e acabamos com uma luz magnífica dourada.

Caleta Valdés costa leste da península.
Na costa leste a praia de seixos forma uma “restinga” que protege um braço de mar de uma cor incrível no sentido norte sul é a Caleta Valdes.

Pinguins de Magalhães ou Spheniscos magellanicus limpando o gogó.
Esta baía protegida é uma santuário para elefantes marinhos, focas, leões marinhos, aves diversas e pinguins. Eles chegam até a cerca que separa a margem da caleta da estrada sobre o “cliff”, sobem o barranco para fazer seus ninhos longe da água. Os da Punta Norte também vão além do talude da praia.

Na península não se pode sair da estrada para dentro das áreas selvagens - a não ser, por exemplo, hospedados na La Ernestina -, como não era o nosso caso desta vez aproveitamos a proximidade voluntária dos pinguins que ficavam a poucos metros das nossas lentes.
Eles pareciam estar se preparando para dormir pois chegavam do mar depois de longa subida e muitos deles batiam as asas/nadadeiras esticavam o pescoço e soltavam um som rouco como se estivessem fazendo gargarejo limpando o gogó.. provavelmente de tanto peixe que vai e volta para os filhotes comerem.

 
Ninho de Pinguin muito próximo da estrada.

O bom de ter ido algumas vezes é que agora eu já sei o horário e a época certa para cada caso, filhotes, pinguins, leões, orcas...







Mas ainda quero aumentar meu acervo de pinguins não só os magellanicos, mas outros tipos que habitam a patagônia argentina e chilena, só falta organizar mais uma trip... Laguna de Rocha, Baía Bustamante, Puerto Deseado, Rio Santa Cruz, os passos e lagos andinos...  me aguardem.


Leões ao sol da austral na península.




quinta-feira, 3 de março de 2011

Passado Passarazzi

1970 Praça da república SP.
Provavelmente dia de manutenção do lago interno da praça; e ou a Tia Aurora, ou a mãe registrou a minha pose de passarazzi  precoce com um pássaro de bronze no ombro - atestando a intimidade deste ilhéu com a avifauna paulistana...
Hehe...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

fim de ano
Este artigo seria publicado no Il Ridotto de setembro, mas como o jornal veneziano entrou num período sabático por conta da fúria das águas de lá, achei por bem publicá-lo antes do fim do ano pois assim o blog permanece ativo...

(relembro que são artigos escritos pensando no público de lá)

ARMADILHA


O Cardeal é uma ave ornamental apreciada por criadores.
Paroaria coronata
 As relações domésticas nas diversas culturas do mundo antigo com as aves ornamentais ou canoras eram comuns. Os romanos já cuidavam ou tinham escravos encarregados de tratar aves em cativeiro. No Egito as prediletas segundo alguns hieróglifos eram os pombos e os papagaios, na Índia as Minahs (Gracula religiosa) são sagradas e falam...

As gaiolas surgiram possivelmente devido a essa admiração das pessoas pelo mistério e beleza das aves.

Seria o paradoxo do amor que acaba matando aquilo que ama, ou apenas algo fútil que violenta a natural liberdade que suscitam os seres alados?

O poder e egoísmo humanos trouxeram prisioneiro o canto dos pássaros para os salões palacianos, atrás dos muros...


Coleirinho ou coleirinha livre na natureza.
 Sporophila caerulescens
 Antes devêssemos buscar estes sons dentro da própria natureza ou no mínimo nos jardins ou fazer praças, bebedouros, plantar árvores frutíferas para atrair os cantores ou os de penas coloridas.

Aqui na Ilha de Santa Catarina o povo descendente de açorianos adora andar com uma gaiola na mão, dizem que levam o pássaro para passear, geralmente são Coleirinhas, Sabiás, Trinca-ferro ou o Curió hoje raro na natureza. Lembro-me que na rua da minha infância nos 1960 todos os visinhos tinham alguma gaiola, viveiro ou criação (alguns tinham até galinhas apesar de ser uma zona urbana). De um lado haviam os canários criados pelo Seu Bazinho, do outro lado, o sabiá do Seu Daniel Pinheiro que também cantava; na frente o Seu Abelardo tinha várias gaiolas, mas também um terreno com árvores frutíferas que vivia cheio de passarinhos e nós que também tentávamos comer uma frutinha sem ele ver e sempre fugíamos pelo campo do glorioso Avaí Futebol Clube aqui da nossa ilha.


Sabiá-laranjeira no orvalho matinal do pasto.
Turdus rufiventris

 Meu pai também teve vários pássaros canoros durante quase toda sua vida, mas o preferido dele era o Cardeal. Teve ainda uma Araponga (Procnias nudicollis) que durou apenas uma noite lá em casa, na manhã seguinte o pássaro madrugou cantando: Péim! Péimmm como um martelo na bigorna! (ele é conhecido como ferreiro http://www.youtube.com/watch?v=gj_xyF4FiEE )

Minha mãe mandou o pai presentear a araponga para o primeiro que passasse, ela não ficaria ali em casa nem mais uma noite....

Depois tivemos um viveiro no quintal, meu cunhado caçava tangarás na Mata Atlântica e os trazia em grupo para o viveiro, eles até dançavam seu bailado nupcial nos poleiros mesmo prisioneiros.


Tangará ou Capitão-do-mato Chiroxiphia caudata
Criado neste universo de aves em cativeiro a observar darem alpiste, banana, água, limpar gaiolas (e até admirando o artesanato do mecanismo dos alçapões), uma vez me deparei com uma gaiola jogada nos fundos da minha casa, era uma das que o pai não usava mais. Arrumei limpei botei ela num prego na parede e aquilo virou um brinquedo para mim, devo ter passado semanas limpando a areia e trocando o alpiste de um pássaro imaginário naquela gaiola vazia.

Mais tarde comecei perceber o objeto gaiola de outro modo, talvez mais dentro do contexto dos anos 70: como limite, como prisão.

É verdade que de lá pra cá muita coisa mudou, a meninada já quase não caça mais passarinho, existem hoje leis que impedem caçadas daquelas que o meu cunhado, seus amigos e muitos outros faziam no passado.


Canário-da-terra-verdadeiro Sicalis flaveola.
  Mas ainda existem milhares de apreciadores de aves ornamentais que se utilizam de gaiolas nas suas atividades diletantes ou comerciais. Existe até o tráfico de aves, onde nesse caso as coitadas não sabem o que é uma gaiola até chegarem (vivos) a outro país.

Depois de tanto falar de pássaros na natureza nos meses anteriores, desta vez, acabei refletindo sobre a gaiola, talvez tentando fazer uma outra leitura de uma instalação minha de 1989 chamada “Armadilha”.


Montagem da instalação Armadilha 1995.
foto Márcio H. Martins
 Essa instalação tinha como ponto central uma gaiola de criação de canários, com todas as suas várias portinhas de arame abertas, pendurada no centro entre quatro telas de pinturas azuis que a envolviam como uma caixa com duas portas abertas nas telas opostas. Dentro da gaiola um ovo de madeira branco apoiado no espaço que seria de um ninho.



Armadilha no hall do Centro Integrado de Cultura  - foto Márcio H. Martins
É uma obra que se pretende aberta, como as portas da gaiola - object trouveé - colhida na demolição de uma das casas da rua da minha infância que eu trouxe para compor esta instalação e agora relembro neste texto.

Talvez procurando as origens do Passarazzi* que hoje sou.


* Passarazzi (pássaro em portugues + papparazzo) é o nome desta minha atividade fotográfica de espiar a intimidade das aves.



Neno Brazil
Ilha de Sta. Catarina
setembro 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Passarazzi no Il Ridoto de Agosto

Encontro com um bando misto.


Pula-pula Balasileurus culicivorus é o centro do bando.
  Não, eu não estou falando de políticos tampouco de piratas ou gangsteres, pois a palavra bando é mais empregada para definir uma quadrilha de ladrões do que para um grupo de músicos, escoteiros ou conservacionistas, talvez um bando de artistas ainda vá lá...
No nosso caso trata-se de um bando de aves, que apesar da imediata relação com a leveza e a liberdade desses seres alados trata-se de um verdadeiro saque, uma associação para forrageio intensivo dos recursos da mata com a segurança do bando.


A massa da mandioca torrando num forno de latão.
foto Rooney Rech
Encontrei pela primeira vez com um bando desses no começo do nosso inverno austral (ainda está muito frio enquanto escrevo) fomos à casa do avô do nosso amigo Luiz na localidade de Vila Hoffman (município de São Pedro de Alcântara, SC Brasil) uma comunidade próxima a açoriana ilha de Santa Catarina, mas de colonização germânica. Lá, chegando um café colonial na casa da Vó, e depois o Vô de 79 anos nos recebeu fazendo farinha e nos serviu da cachaça que fabrica ali também num engenho do início do séc. XX, feito a mão de madeira com uma engenharia do séc. XIX. É bonito de ver aquelas engrenagens funcionando à água.


O polvilho subindo. foto Rooney Rech
  
O pai e o tio dele, um deles nascido na Alemanha, construíram um açude e canalizaram na pá e na picareta, parte da água do rio para uma roda d’água que move o engenho de farinha e cachaça e  também uma outra que traciona uma máquina artesanal de transformar troncos em tábuas postes e palanques de cerca .
Saí-azul Dacnis cayana, membro do bando.
A água move os dentes de madeira que moem a cana-de-açúcar para fazer cachaça, ralam a mandioca para fazer farinha e movem a pá de madeira que mexe a mandioca ralada sobre o cobre quente e a transforma em farinha. Esta “paellera” de cobre imensa sobre um forno torra a massa da mandioca e a torrefação faz subir um pó, que se chama polvilho (acho que em algumas línguas), mas que não é aproveitado apenas tudo se cobre de branco como se pode ver nas fotos do Rooney que arriscou entupir sua lente de pó focando as teias cheias de farinha. Eu me afastei um pouco do engenho aonde o Ben filmava a roda d’água e sentei na beira do mato por onde passava o canalzinho que ia para a roda. Esperava rever umas aves coloridas que tinha visto de relance antes, ali próximas da água.



Polvinho sobre a telha...

Apesar da luz não ser muito boa (estava nublado) preparei a câmera com a lente 400 mm, fiz uma foto do telhado branco de farinha mais abaixo. Sentei numa pedrinha atrás de uns arbustos para esperar as aves, mal me acomodei percebi um bando chegando por entre as árvores vindo na minha direção eram uns cinco ou seis pássaros coloridos no núcleo do bando com pios e outras aves acompanhando perifericamente o deslocamento do grupo pelas galerias da mata. Estes cinco ou seis pássaros, eu não os contei, pois fiquei tão perplexo que não sabia para qual olhar, vieram todos para o arbusto imediatamente à minha frente e ficaram a 60 cm da ponta da minha lente (que só começa a focar a partir de 3,50metros). Por puro reflexo ainda tentei focar, mas baixei a câmera e fiquei apenas olhando as Saíra - militar, Saíra-sete-cores, Saí-azul e sua fêmea verdinha e eu acho que vi uma Saíra-lagarta também....Todas me olhando fixamente parecendo curiosas com a minha estupefação e alegria frente a elas, o tempo parou por uns segundos e de repente todas voaram como se numa coreografia criada pelo vento por entre as árvores da floresta.

O bando misto: Saíra-sete-cores Tangara seledon e fêmea do Saí.

Saíra-militar Tangara cyanocephala.

Fiquei atônito por uns instantes e saí correndo também para o lado do açude, atrás delas, tentando fotografá-las. Encontrei um pequeno e irrequieto passarinho que ficou bem no foco e foi o melhor registro que fiz do bando misto naquele dia, era o Pula-pula que depois, descobri em pesquisas “googleanas”, funciona como uma espécie de catalisador para o fenômeno do bando misto.


Pula-pula Balacilerus culicivorus

Acredita-se que por ser irrequieto e sinalizador com vocalizações constantes e claras sirva de guia dando coesão ao bando e alerte sobre predadores à espreita. O bando também dá maior possibilidade de defesa, pois um grupo de pequenos pássaros pode enfrentar aves maiores com mais chances inclusive de fuga.


Saíra-sete-cores Tangara seledon
Existem diversos tipos de formações desses bandos mistos, variando conforme a época do ano, ou a presença de alguma espécie migratória, ou o tipo de mata ou alteração no meio ambiente, ou estação reprodutiva, mudam os pássaros associados conforme essas variáveis.


Não há consenso sobre o que move os pássaros de espécies diferentes a cooperar formando tais bandos.


Também não sei, mas sei que é bonito de ver é.



Neno Brazil.
Ilha de Santa Catarina




domingo, 27 de junho de 2010

Era uma vez um Dodô


Dodô ou dronte Raphus cucullatus

No mês de Julho (luglio) no jornal Il Ridoto sairá mais um artigo, desta vez sobre curiosidades ornitológicas. E uma delas é o espécime da gravura o Dodô deste post.

Abaixo segue o artigo em português:


Os Pássaros

As corujas sempre foram associadas aos
magos e feiticeiras, mas nem sempre ao
mau-agouro. Couruja-buraqueira
Athene cunicularia
 Porque deveríamos observar os pássaros? Se algum deles surgir devemos levá-lo em conta? Afinal para alguns gregos do passado uma ave voando sobre um caminho poderia ser um presságio. Para Edgar Allan Poe o corvo disse nunca mais... Noé soltou uma pomba para sondar o novo mundo. A terceira ou primeira parte da Trindade Pai-Filho-Espírito Santo é representada por uma pomba, sem falar no hórus egípcio e em orientais dançando como Grous na primavera.Existem muitas coisas curiosas e verdadeiras maravilhas sobre estas criaturas aladas.
Aves são animais singulares, nós os mamíferos que, no decorrer dos últimos séculos, acabamos por dominar (que palavra arrogante) o planeta, não somos tão bem distribuídos nele como as aves. Parece que as aves foram mais eficientes em ocupar espaços.Encontramos a avifauna até onde o homem não consegue viver sem apoio mecânico, como os famosos pingüins imperadores que caminham quilômetros para se espremerem num círculo em constante movimento para se proteger das nevascas do inverno do pólo sul. Se o seu filhote cair do meio quentinho dos seus pés congela imediatamente!

Os pingüins em geral 
Pingüins limpam o gogó na Península Valdez.
Pingüin-de-magalhães Spheniscus magellanicus
como os magellânicos das fotos são aves que voam somente em baixo da água e em velocidades de F1. Suas asas evoluíram para nadadeiras eficientíssimas que associadas ao seu corpo hidrodinâmico lhe dão uma performance subaquática que os peixes do seu cardápio detestam. Esta velocidade na água lhes permite também a fuga de predadores que tem como única oportunidade para caçá-los quando eles entram e saem do mar. Que armadilhas da evolução levaram os Pingüins a ter este “estilo” de vida? Talvez os observando encontremos a resposta.

Eles até lembram os homens-santos da Índia.
Apesar do nome Grou senhorinha.
(ave exótica essa foto é no P.N. Iguaçú)

Nas montanhas temos a performance sobrenatural dos Grous que migram de um lado para o outro do Himalaia passando voando por cima do Nepal! Eles alcançam altitudes, para esta travessia, muito maiores do que o homem pode sonhar: cruzar a cordilheira da Ásia central com a força das suas próprias asas (oníricas). Ou então se fôssemos anjos.
Existiram outras aves que não voavam como o Kakapo o enorme papagaio neozelandês, que sendo verde, se camuflava ficando imóvel, disfarçando-se de moita, na presença de um predador. Ele praticamente se extinguiu assim que o homem branco introduziu o gato doméstico e os cachorros na Nova Zelândia depois de 1642.
Falando em extinção, uma ave singularíssima é o maior exemplo do fator humano na eliminação das espécies: o Dodô. Ele está mais para uma corrida de comitê de Alice no país das maravilhas, mas sua história não é nada maravilhosa. Os Dodôs foram descobertos nas ilhas Maurício pelos portugueses, que desembarcaram em 1507, mas foram registrados em 1598 por diários de bordo holandeses, e já em 1600 eles haviam desaparecido completamente. O motivo? Eram tão bobos que bastava chamá-los pegá-los pelo pescoço e créc! Menos um Dodô, por puro esporte e ignorância uma vez que sua carne foi descrita como repugnante. Detalhe: ele também não voava... Dizem que o nome da ave deriva do português arcaico doudo hoje doido...


Ema ou Ñandú Rhea americana

Algumas pesquisas arqueo-ornitológicas atuais apontam cada vez mais para uma linha evolutiva dos dinossauros até as aves, realmente sempre achei algumas aves pré históricas e de aparência reptiliana como o Cazuar da Nova Guiné e norte da Austrália ou o Ñandú um avestruz sul-americano chamado de Ema no Brasil.
 Ele tem asas atrofiadas também, mas possuem pernas poderosas do tipo dos raptors de Jurasic Park.E com aquele tamanho eu não gostaria de levar uma bicada muito menos uma patada de um desses verdadeiros dinossauros contemporâneos.
A fisiologia das aves também é fantasticamente diversa, as corujas por exemplo, não possuem globo ocular, seus olhos são especializados em abrir e fechar o enorme diafragma que proporciona sua especial visão noturna. Para dar uma visão panorâmica a ela, o deus/evolução criou um pescoço que gira quase 360° e é bem flexível dando a ave uma visão geral dos arredores do seu ninho. Outra coisa curiosa da ossatura das corujas é que o seu crânio apresenta uma assimetria das cavidades auriculares. Tendo os ouvidos colocados assimetricamente as corujas, além de ouvirem muito bem, ainda utilizam a audição como um radar triangulando a posição do roedor barulhento abaixo da palha ou da neve.


O pré-histórico Casuar (ave exótica essa foto é no P.N. Iguaçú)


Por sua vez as Garças, Flamingos e outras pernaltas têm, em todo seu esqueleto, o mesmo fluido que temos apenas no nosso ouvido (no Labirinto). Não é a toa que elas dormem numa perna só e com isso conseguem esquentar uma das duas únicas partes desprovidas de penas economizando energia. 
As aves migram aparentemente guiadas por sua capacidade de “ler” um mapa magnético no planeta, algumas delas cruzam o globo de norte a sul e vice-versa sem se perder (e sem GPS).
Os comportamentos também são únicos. O famoso Uirapuru, conhecido e até homenageado no cancioneiro popular brasileiro como um grande pássaro cantor, canta somente 15 dias por ano enquanto constrói seu ninho no Brasil central. E mesmo assim só de manhã bem cedinho e durante o crepúsculo durante alguns minutos. (Para ouvir: http://www.saudeanimal.com.br/uirapuru.htm vale à pena)
E todo esse maravilhoso mundo de penas coloridas, cantos maravilhosos, vôos e balés nupciais depende de até quando irá existir um meio ambiente minimamente conservado para a sobrevivência das espécies, afinal elas são apenas a parte belamente visível do ciclo de energia que é a natureza em pleno funcionamento (Luz do sol/Que a folha traga e traduz/Em ver de novo/Em folha, em graça/Em força, em luz.. Caetano Veloso).

Flamingos andinos em Gov. Celso Ramos Phoenicoparrus andinus


Neno Brazil
Ilha de Sta. Catarina


segunda-feira, 14 de junho de 2010

Era uma vez uma Mata Atlântica...


Trilha aberta na Mata Atlântica entre Minas e São Paulo

A Mata Atlântica brasileira já ocupou 136 milhões de hectares do território do país, mas desde o evento do “descobrimento” vem sendo dilapidada pelo “desenvolvimento” econômico da civilização ocidental. A seiva da árvore de Pau Brasil foi cobrir de vermelho, reis e cardeais no passado da Europa, as naus carregavam toneladas de toras da ybirapitanga (madeira vermelha em tupi) como lastro na viagem de volta deixando aqui algumas pedras do lastro original usado na travessia do Atlântico.




Grimpeirinho na Mata Nebular das encostas da Serra Geral
Leptasthenura striolata

Como conta Eduardo Bueno em 1531 o Barão de Saint Blanchard abriu um processo Judicial sobre o seu navio La Pélerine capturado em Málaga por Portugal ao voltar do Brasil. No processo consta um rol das mercadorias confiscadas além do próprio navio, ele carregava: 300 toneladas de Pau Brasil, 300 “quintais” de grãos do Novo Mundo, três mil peles de onça e outros animais, três mil ducados de ouro, mil ducados em óleos medicinais e 600 papagaios sabendo algumas palavras em francês. Hoje fico a pensar sabe-se lá de que espécies eram estas aves descritas genericamente como papagaios, talvez alguma de ocorrência endêmica que hoje não exista mais...



Broto de samambaia ao lado da trilha
Depois do impacto do “descobrimento” os ciclos econômicos, do Ouro, do Cacau e da Cana-de-açúcar, terminaram de fazer o serviço do desmatamento que naqueles tempos deveria significar “o progresso e a civilização” sobre a Jângal tropical.
No passado a Mata Atlântica era contínua com a Floresta Amazônica e cobria todo o litoral brasileiro do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, Chegava até a Argentina e o Paraguai, nas regiões Sul e Sudeste, cobrindo importantes trechos de serras e escarpas do Planalto Brasileiro

Hoje existem apenas 6,98%* de Mata Atlântica no Brasil. E em cinco anos (2000 – 2005 por exemplo), foram desmatados 95.066 hectares, equivalente a 8 mil Maracanãs (que já foi o maior estádio do mundo).

Já foi a segunda maior floresta tropical em ocorrência e importância na América do Sul, em especial no Brasil. Encontra-se hoje extremamente reduzida, sendo uma das florestas tropicais mais ameaçadas do globo, apesar disso, seu clima subtropical lhe confere uma biodiversidade de ecossistema das maiores do planeta.

Atualmente no Brasil a Mata só sobrevive em algumas ilhas florestadas cercadas por campos de gado ou lavouras diversas e até monocultura como a soja, os cítricos e a cana-de-açúcar. Em alguns lugares do interior ainda se faz aguardente de cana do modo como se fazia há 400 anos atrás pelos colonizadores a Pinga - a tradicional Cachaça brasileira.

Alguma coisa boa esse desmatamento todo tinha que ter feito...


Saíra preciosa habita a Mata Atlântica sul.
Tangara peruviana

Em alguns parques e montanhas de quase 2 mil metros da Serra Geral, ao longo da costa brasileira, a mata ainda sobrevive em largas extensões florestadas.

É também considerado Mata Atlântica todo o perfil da cobertura vegetal da costa atlântica brasileira e suas serras; isso envolve ambientes diversos como: Campos de Altitude, Floresta Nebular das encostas da Serra Geral, Mata de Araucárias e Florestas Úmidas com árvores de 20 a 30 metros de altura com grande diversidade de parasitas como cipós, bromélias e orquídeas. São também parte deste conjunto as vegetações de restingas e mangues que formam as bordas da floresta quando ela encontra o oceano que lhe empresta o nome.

Papagaio brasileiro - Amazônia aestiva - ocorre no Brasil central,
mas já habita a Ilha de Santa Catarina.
Cada vegetação desse conjunto possui uma avifauna característica e diversa.


As aves pescadoras, é claro, estão nos manguezais ou nas restingas costeiras, mas em meus passeios pelo interior das bacias hidrográficas catarinenses tenho encontrado os Martim-pescadores, o Biguá (cormorán) e as diversas garças também longe da costa.

Os pássaros canoros como o gaturamo, capitão-do-mato, sabiás e outros habitam as áreas florestadas, que são sobrevoadas constantemente por Urubus (o rei e o cabeça-vermelha), gaviões grandes e pequenos, notavelmente o Gavião-pega-macaco e a Harpia os maiores que eu bem gostaria de avistar e/ou fotografar um dia.
Beija-flor-de-fronte-violeta -Thalurânia glaucopis

A coruja buraqueira é outra que encontramos no campo na cidade, em dunas de areia e em pastagens como também o Quero-quero e alguns íbis. E aonde houver flores os cintilantes Beija-flores!

É importante defender a criação de corredores ecológicos para que os animais dessas ilhas de Mata Atlântica possam trocar material genético preservando assim a saúde das populações e aumentando a área de território para algumas espécies a beira da extinção simplesmente pela restrição espacial de sua dinâmica populacional.
Tucano-de-bico-verde - Ramphastus dicolorus

Com essa diversidade de espécies e de ambientes diferenciados, o conjunto da Mata Atlântica que restou forma alguns “buquês” riquíssimos de biodiversidade, mas cada vez mais arrochados pelo laços limitadores que nós, enquanto civilização criamos.


Um arquipélago de florestinhas no que antes seria uma exuberante e grandiosa cobertura verde.

* (SOS Mata Atlântica/INPE)



Neno Brazil
Ilha de Santa Catarina Junho 2010
Passarazzi