segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Aves do Manguezal

Passarazzi dal Brasil: Uccelli di Mangrovia
Garça-moura Ardea cocoi decola sobre o canal do mangue.
Em português “manguezal” é o terreno onde crescem as árvores chamadas mangue.  No entanto muitas pessoas usam o termo “mangue” ou até "mangal" para falar desse ecossistema. Essas árvores possuem sementes que bóiam e migram fincando raízes assim que tocam alguma lama banhada por rios e mar, sujeita ao regime das marés. No Brasil são protegidos legalmente desde a época de D. João VI. Considerados um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho, são característicos de regiões tropicais e subtropicais.

Garça-azul Egretta caereula
filhote acima e mamãe abaixo.

Savacu-de-coroa Nyctanassa violacea
sobre as árvores de mangue

O Brasil tem cerca de 25.000 km2 de manguezais, que se distribuem ao longo do litoral Sudeste-Sul brasileiro, desde o Cabo Orange, no Amapá, até o Município de Laguna em Santa Catarina, estado que concentra 12% dos manguezais brasileiros. Sua geologia repleta de estuários, lagunas e enseadas oferece.condições ecológicas perfeitas para a ocorrência de manguezais inclusive aqui nas baías da Ilha de Santa. Catarina .

Considerados berçários naturais, sua vegetação e composta espécies típicas, às quais se associam outros componentes vegetais e animais entre eles as aves.


Filhotões de biguá
Phalacrocorax brasilianus

 A aves encontram nos manguezais nos horários de maré vários tipos de petiscos como ostras, camarões, berbigões, caranguejos e outros moluscos, além dos peixes que utilizam o mangue como abrigo ou maternidade e acabam sendo “pescados” pelo Martim ou a Garça que ficam empoleirados nas margens dos canais internos do mangue à espreita do seu almoço ou o de suas crias..


Sempre vão dois remadores, neste dia,
no 2° remo e a foto é do Alberto.

Eu, Passarazzi que sou, vou remar no mangue para capturar imagens de seus habitantes alados que ali pescam, dormem, namoram e fazem tudo o que uma ave deva fazer na vida. Para poder ir lá dentro, no centro do manguezal, me equipei com uma canoa tipo canadense de plástico verde que batizei de AKU AKU, nome originário da Ilha de Páscoa que significa um espírito forte, necessário para lutar contra os esquadrões de mosquitos que também moram e procriam no mangue...


Filhotes de Savacu
Nyctanassa violacea

Em geral os mangues no Brasil e aqui na Ilha e Santa Catarina são, atacados mesmo é “pelas bordas” através da especulação imobiliária e a ocupação ilegal nas margens das estradas que contornam essa áreas. Mas no coração desses lugares, entrando de canoa pelos meandros de canais que os irrigam na maré alta, não se vê sinal da ocupação humana. (a não ser o indesejável lixo plástico que bóia pelos oceanos de pólo a pólo) E a fauna local se mostra totalmente integrada àquela paisagem natural alagada e biologicamente rica.

A pré-primavera é propícia para avistar os reservados Savacus.
Nyctanassa violacea

É sempre produtiva uma incursão ao manguezal, lá eu já fiz registros de Martins, Garças, Savacus, Maçaricos, Biguás e muitas outras espécies que não consegui clicar, pois foram pousar num galho mais para lá, inacessível à minha lente. Até um jacaré-de-papo-amarelo apareceu na última vez. É uma coleção que nunca acaba, pois em cada mangue visitado vemos que a biodiversidade ali é muito variada mostrando que temos trabalho para muitos anos ainda até clicar todas as espécies na melhor pose possível.


Com a lua agindo na ação diária das marés de água salgada ou salobra que banha os manguezais, cria-se um ritmo natural tanto para a sobrevivência das espécies características desses ambientes, como dos peixes e aves que migram para as áreas costeiras durante fases de sua vida para alimentação ou para reprodução.

Saracura-tres-potes Aramides cajanea


Até quando esses sistemas fundamentais vão agir no ritmo ou freqüência que garanta toda a sua sustentabilidade e também a sustentabilidade do camarão (ao alho-e-óleo com uma bebida gelada) que queremos comer no calor do fim de ano aqui no Brasil.
Um 2010 grandissimo!


Neno Brazil
Ilha de Santa Catarina
dezembro 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Beija flores

Beija-flor-de-papo-branco Leucocloris albicloris

"Ucceli dal Brasile"
Le frenetiche dolcezze dei colibri

A prima Jurubeba veio ao Brasil, voltou a visitar a Ilha de Santa Catarina e nos trouxe o Luca, também ilhéu, mas de Veneza. Desde então eu fiquei encucado com uma de minhas idéias.

Faz algum tempo me dedico regularmente a fotografar aves e classificá-las segundo os livros.


Beija-flor-preto Florisuga fusca
 Gosto de “caçar” estas imagens, mas pensando pelo lado das aves... me sinto um verdadeiro paparazzo ou paparazzi, sempre bisbilhotando a vida dos passarinhos e seus momentos privativos. Comendo, dormindo, dando uma voadinha...

Como em português uccello é pássaro, e alguns de nossos poetas e músicos já grafaram até como passarim, eu inventei o nome PASSARAZZI juntando as duas palavras...

Com esse nome, na internet, envio bissextamente para uma lista de amigos e interessados uma série de fotos de aves que faço por aí, em Florianópolis, na Patagônia, na Praia, no Deserto, onde estiver com o equipamento, eu vou à cata desses momentos ornitológicos...


Beija-flor-da-veste-preta Antracothorax nigricollis 
  Não me lembrava do título em italiano do filme de Pasolini, “Gaviões e Passarinhos” (em português), portanto foi uma surpresa para mim quando Luca pronunciou a palavra uccello e conversamos um pouco sobre o que ele gosta: a origem das palavras. Então eu pensei: oiseau, bird ou até nos nossos visinhos na América do Sul: pájaro!...

Putz! Minha grande idéia para dar nome ao trabalho com as fotos de pássaros só serve para o Brasil... Que tragédia, he he.
Resta apenas a tristeza e decepção se afogar em uma quantidade adequada de cerveja, caipirinha, cachaça, ostras e camarão ilhéus (não necessariamente nessa ordem).


Beija-flor-de-fronte-violeta Thalurania glacopis
 Depois fiquei muito honrado com o convite para mandar fotos e escrever sobre pássaros brasileiros no Il Ridotto e com isso me senti um pouco melhor, mas me vi novamente diante da idéia de circunscrever alguma coisa somente ao Brasil, pois Luca falou em uccelli brasiliani.

Vamos ver as coisas por outro lado então, heterodoxamente, pensei em começar falando dos Beija-flores, por exemplo, que não existem no velho mundo. Beija flores são exclusivos das Américas ocorrendo do Alaska até a Terra do Fogo.

Beija-flor-de-papo-branco Leucocloris albicloris
No Chile, no arquipélago de Juan Fernandes fica a conhecida a ilha de Robinson Crusoé, lá existe o Picaflor Rojo de Juan Fernandes, endêmico, pois a ilha é distante da costa chilena. Os campeões da biodiversidade são Brasil e Equador que possuem juntos metade das centenas de espécies conhecidas. Eles são da ordem Trochiliformes que possui apenas uma família Trochilidae, dividida em 108 gêneros e 322 espécies conhecidas de Beija flores. Eles são muito bonitos, luminosos e muito rápidos o que torna difícil fotografá-los. No quintal da minha amada tem umas árvores ainda crescendo e os pais dela cuidam todos os dias de bebedouros para pássaros com um pouco de açúcar ou mel, eles ficam na sombra e são lavados frequentemente o que garante a saúde dos beija-flores ou pelo menos a freqüência das suas visitas.


Beija-flor-de-banda-branca Amazilia versicolor

Sempre me disseram que essa prática faz mal aos bichinhos e que o certo é plantar trepadeiras de flores  específicas na sua varanda ou quintal, e coisa e tal... também acho, mas enquanto essa varanda não existe, tenho constado que os beija-flores do jardim dela continuam voando a mil-por-hora e parece que nenhum deles morreu, pelo contrário, pois a quantidade de indivíduos e espécies diferentes só tem aumentado no jardim da Chi.

E eu vou aproveitando para bisbilhotar, registrar e mandar para vocês um pouco da vida deles, aqui e ali, pousados e voando em busca do falso néctar...



Neno Brazil
Ilhade Santa Catarina
novembro de 2009